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Channel: Iris Figueiredo - Literalmente Falando » Amizade
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Quem fica no meio do caminho

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Esses dias reencontrei uma pessoa que costumava ser minha amiga na época da escola. Ela engordou uns quilinhos e mudou a armação do óculos. Eu também engordei (vários) quilinhos, cortei meu cabelo e mudei o estilo de me vestir. Desconsiderando encontros casuais pela rua e acenos distantes e raros, desde que saí da escola nós nunca mais havíamos conversado de verdade. Um “oi” no chat do facebook, uma reply no twitter. Só. Ela sabe o que eu faço – na verdade, todos os meus colegas de escola parecem saber exatamente o que aconteceu da minha vida, enquanto eu não faço ideia de onde eles estão – e eu também sei que curso ela faz e com quem ainda namora. São aquelas informações contadas rapidamente em esbarrões por aí: “Oi, como você tá?” “Tô bem. E você? Quanto tempo! Fazendo o que da vida?” “Tô fazendo Direito não sei onde e trabalhando com sei lá o quê. Quando sai seu livro novo?” e assim a conversa segue com mais duas ou três fases até alguém dizer que está atrasado sabe-se lá para quê. Talvez alguns desses compromissos da vida pseudoadulta, talvez uma desculpa para não puxar assunto.

No final do meu Ensino Médio, já estava começando a ser o tipo de pessoa que sou hoje. A Iris de 2009 é tão diferente da que senta agora e escreve essas linhas que nem sei precisar. Talvez por isso naquela época já estivesse acontecendo uma coisa que eu, aos quinze anos, jurava que jamais aconteceria: terminar a escola e perder contato com meus amigos. Mas a vida é muito engraçada e muitas coisas estranhas aconteceram, o que me desligou totalmente de todo mundo que estudou comigo. Eu vejo as postagens no mural do facebook, encontro as pessoas na rua e é até difícil acreditar que, durante anos, aquelas pessoas foram minha vida.

Naquele dia a gente tentou puxar assunto, encontrar um tema em comum, mas eu só me senti esquisita e desconfortável. Durante alguns segundos comecei a pensar o que nós costumávamos conversar e como era possível perder assunto com alguém que passava madrugadas ao seu lado. Tenho certeza que naquela fração de segundo de silêncio esquisito, a mesma coisa passou pela cabeça dela.

É engraçado como, durante a vida, muitas pessoas que são tão importantes para você durante um longo período de tempo parecem se tornar estranhas de um dia para o outro. De vez em quando é um pouco triste ver fotos dos meus amigos do Ensino Médio, a maior parte deles ainda convivendo lado a lado. Não é que eu seja melhor ou pior que eles, mas sim que segui um caminho muito diferente. Nesse caminho eles ficaram para trás.

Não é sempre que me bate esse tipo de nostalgia. Para falar a verdade, não tenho saudades do Ensino Médio e, sinceramente, nem das pessoas. Muitas coisas aconteceram e grandes amigos se tornaram perfeitos estranhos. O tempo transformou pessoas que costumava confiar em alguém que não gosto muito nem de encontrar. O que me dá saudades é aquela crença cega que costumava ter de que pessoas nunca saem da sua vida. Eu jurava que seria convidada para o casamento da minha melhor amiga da adolescência e seria madrinha dela – mas quem me conhece sabe que a ideia é completamente risível hoje em dia. Tenho saudades de como tudo parecia simples e como eu confiava mais nas pessoas; mas chega um dia que a gente tem que crescer e desconfiar, faz parte.

Daqui a uns anos, sei que vou sentir falta de algumas pessoas que marcam minha vida hoje. Tem gente que desaparece do nosso mundo e nem dá pra perceber, só vamos notar anos depois. Também tem pessoas que ficam ao nosso lado para sempre. Isso não significa que o primeiro caso algum dia não tenha sido seu amigo de verdade, mas sim que pessoas mudam e cada uma tem um caminho a seguir. O que importa mesmo são as marcas que ficam e, quando reencontrei aquela velha amiga, soube que apesar de uns pontos ruins que nos fizeram seguir caminhos diferentes e perder contato, no passado ela deixou algumas das melhores marcas possíveis.

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Mais uma crônica! Acho que todo mundo tem uma história dessas, né? Se não tem, um dia vai ter. Me conta aí nos comentários e não esquece de dizer o que achou do texto.


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